“Eu
não tenho nada a ver com tudo o que digo, é apenas um murmúrio que murmureja
dentro da cabeça” (Jozu)
Quando terminei de ler Pequenos discursos. E um grande, de
1977, pensei: - caramba! Que tempestade é
essa que acabou de passar por aqui? Dormente das pernas, levantei-me para
ir ao banheiro. Sabe quando você passa horas no cinema e ao término da sessão você
levanta para ir embora e está cheio de formigas pelo corpo? Semelhante.
Oh, mas “Cresce, se faz continente” a autora me diz na cara! Logo depois, me
posta em elucubrações: “como posso ser um
e dar de mim, se de tudo o que sou não conheço o segredo”? Agarro-me, faço
hora na valsa e dou por mim, ao fim da tarde, fechando o livro no meu colo
depois de um grande:
Rútilo
Nada também havia passado, e eu
ali, suportado a tempestade como quem só observa, mas percebe: por fora solo
rachado, carne humana alheia ao tempo que a seca. Por dentro, terra revirada,
húmus de minhocas que preparam eminencias.
A autora assume um poder de liberdade proporcionado
pela arte escrita em confluência com os paradigmas do conteúdo. Tamanha é sua ousadia que os incautos poderão se ofender.
Não desista. Se deixe invadir pela palavra, se encharque de letras. Pode usar
seus sentidos corporais se preferir: às vezes a coisa tem necessidade de ser
vista com o que a gente sente e não com o que a gente sabe. Também se pensa
com o coração e em “Rútilos”, Hilda Hilst lhe apunhalará.
____________Detalhe da capa do livro.____________ |
A obra compila dois livros de prosa da
Hilda. O primeiro é “Pequenos discursos.
E um grande” de 1977 e o segundo é “Rútilo Nada” de 1993. A
ideia de juntar estas duas ficções foi do professor da Unicamp e também
responsável pelas edições dos livros da Hilda, Alcir Pécora. A orelha do livro
e também o conjunto do mesmo, nos mostra respostas às questões amorosas num
tempo nocivo da alma humana e de crueldade da vida humana.
O primeiro de 77 (tempos tão chatos para
nós brasileiros, enfim: a ditadura militar.) parece predominar a referência aos
constrangimentos dos direitos e liberdades. Repressões e amores fugidios nos
desvãos de teologias das relações.
"A
CARA DO FUTURO ELE NÃO VIA. A vida, arremedo de nada. Então ficou pensando em
ocos de cara, cegueira, mão corrida e pés, tudo seria comido pelo sal, brancura
esticada da maldita, salgadura danada, infernosa, salina, pensou óculos luvas
galochas, ficou pensando vender o que, Tio inteiro afundando numa cintilância,
cane-de-sol era ele, seco salgado espichado, e a cara-carne do futuro onde é
que estava"? (p. 29)
Em 1993, com Rútilo Nada, vem à superfície certas proibições sexuais, menos
óbvias, mas já premeditadas pela autora em 77. Sobre o título do livro, o site da editora nos traz uma curiosidade do
organizador: “Rútilos, no entanto, foi o título dado pela própria autora à
junção das suas obras. "Eu sei o que significa a palavra no português,
isto é, o mesmo que rutilante: "um brilho que ofusca". Há, portanto,
ironia no título quando o que brilha intensamente é o "nada". Quando
propus juntar as novelas, Hilda logo pensou que o melhor título para o novo
volume era Rútilos. Disse que preferia um título curto e incisivo",
declara o professor”.
Por fim, arrisco algumas palavras-chaves
para está obra: “Poesia”, “Sexo”, “Paixão” e “Loucura”. Se você procura algum
desses temas, certamente “Rútilos” de Hilda Hilst lhe interessará.
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LEIA HILDA HILST! :')
• Conheça mais sobre a autora no Portal Cultura
Hilda Hilst: O vermelho da vida.
http://www.hildahilst.com.br.cpweb0022.servidorwebfacil.com/obras.php?categoria=5&id=51[Centro de Estudos Casa do Sol]
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